10 livros que todo jornalista deve ler – por Sergio Villas-Boas

A segunda lista de “10 livros…” é com o jornalista Sergio Villas-Boas, um dos fundadores da ABJL (Academia Brasileira de Jornalismo Literário) – hoje representada pela EPL e sob comando de Edvaldo Pereira Lima. Sergio é ainda escritor e professor com mestrado e doutorado pela ECA/USP (pesquisas sobre narrações biográficas).  A entrevista com o autor foi feita pelos repórteres Jéssica Oliveira e Guilherme Sardas para o Portal Imprensa. Confira as indicações:

1 – A Regra do Jogo, de Claudio Abramo

Sinopse: Este livro é constituído a partir de depoimentos deixados por Cláudio Abramo, um dos maiores jornalistas que o a regra do jogoBrasil já teve, morto em agosto de 1987, tendo como contraponto mais de uma centena e meia de entrevistas, artigos, reportagens e comentários publicados pelo autor.

Seu testemunho descreve os processos, episódios e acidentes de que ele foi protagonista em sua trajetória, como responsável pela modernização dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, formador de gerações de profissionais, participante ativo de todas as batalhas políticas que se têm travado no país.

Suas lições percorrem todo o espectro da atividade e da ética jornalística. Mas vão além, para assumir uma dimensão universal: o personagem principal deste livro é a História, referencial constante de Cláudio Abramo ao longo de sua vida profissional. Definida e praticada, eis a regra do jogo.

2 – Os elementos do Jornalismo, de Tom Rosentiel  e Bill Kovach

os elementos do jornalismoSinopse: Escrito pelos jornalistas norte-americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, o livro apresenta prefácio de Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo. A obra é leitura obrigatória para todo profissional da comunicação – e para todo cidadão que perceba como sua vida, seus pensamentos e sua cultura são diretamente influenciados pelas notícias e pelo jornalismo disponível. A idéia do livro surgiu após um encontro realizado em Harvard em 1997, que reuniu 25 dos mais importantes jornalistas norte-americanos para discutir o que havia acontecido com o jornalismo entre Watergate (1974) e Whitewater (era Clinton).

Foi criado o Comitê dos Jornalistas Preocupados, que, dois anos depois, idealizou, sob a batuta de Kovach e de Rosenstiel, 21 fóruns reunindo mais de 3 mil pessoas e 300 jornalistas para debater se e como a imprensa livre pode sobreviver. Chegou-se à conclusão de que a finalidade do jornalismo é definida pela função exercida pelas notícias na vida das pessoas. E seu princípio mais importante seria, assim, o compromisso com a verdade, para que as pessoas disponham de informação para sua própria independência.

3 – Fama & Anonimato, de Gay Talese

Sinopse: No início dos anos 60, o repórter Gay Talese saiu pela ruas de Nova York e descobriu uma segunda Estátua da livro fama e anonimatoLiberdade, cuja única função seria confundir os desavisados. Constatou também que os nova-iorquinos piscavam em média 28 vezes por segundo; que sob chuva o movimento do comércio caía de 15% a 20%, mas menos gente se matava nesses dias; que um mergulhador ganhava a vida recuperando objetos perdidos no fundo da baía de Nova York; que as prostitutas promoviam anualmente um baile em homenagem aos cafetães da cidade, e que as faxineiras do Empire State encontravam mais ou menos 5 mil dólares por ano nas 3 mil salas do edifício.

Fama e anonimato está repleto de informações assim: aparentemente inúteis, mas que, nas mãos de um escritor de primeira categoria, imprimem a textura real da cidade e o rosto de seus habitantes. Nas três séries de reportagens reunidas neste livro – a primeira, sobre o estranho universo urbano que é Nova York; a segunda, sobre a saga da construção da ponte Verrazzano-Narrows, e a terceira, sobre artistas e esportistas americanos -, Talese abriu a picada do que mais tarde seria batizado de “novo jornalismo” ou jornalismo literário, um tipo de reportagem que alia um texto de alta qualidade a um olhar que foge aos lugares-comuns.

4 – A Marca Humana, de Philip Roth

a marca humana philip rothSinopse: Coleman Silk, professor de letras clássicas numa universidade da Nova Inglaterra, aos setenta anos se vê obrigado a pedir exoneração e a se afastar do meio acadêmico. O motivo é uma acusação de racismo. Coleman empregou uma palavra de duplo sentido ao se referir a alunos que não compareciam às aulas. Ignorava serem negros, pois nunca os tinha visto, e portanto não atinou que suas palavras poderiam ser tomadas como ofensa.

Virá em seguida uma acusação de abuso sexual, contra uma faxineira de 35 anos que trabalha no campus. A ideologia do politicamente correto tomou o poder na universidade e disparou sua artilharia contra o velho professor judeu, que agora, como no passado, se recusa a sujeitar-se aos padrões dominantes.

Execrado publicamente, Coleman trava contra a faculdade uma batalha humilhante. O ambiente carregado de ódio recrudesce quando o ex-marido da faxineira, um veterano da Guerra do Vietnã mentalmente perturbado, cruza seu caminho. O ciúme se mistura ao rancor, por ser Coleman intelectual, velho e judeu. Perdido na névoa de um delírio homicida, o veterano encarna os piores pesadelos americanos, com os quais Coleman terá de ajustar contas.

Mas o mesmo professor que antes revolucionara a faculdade e se fizera admirar pela audácia guardou um segredo por cinco décadas. Nem a esposa nem os filhos conheceram sua verdadeira origem racial, pois aos vinte anos, ao entrar na marinha, Coleman Silk descobriu que ela não era evidente e que podia manobrá-la. A marca humana, entretanto, não se apaga. Não há destino, individual ou coletivo, capaz de pôr-se a salvo dos seus vestígios.
Ao lado de Pastoral americana e Casei com um comunista, este romance compõe a grande trilogia de Philip Roth (1933) sobre a vida na América do pós-guerra – um painel impressionante em que indivíduos de grande vigor moral e intelectual são assolados por forças históricas fora de controle.

5 – Reparação, de Ian McEwan

Sinopse: Na tarde mais quente do verão de 1935, na Inglaterra, a adolescente Briony Tallis vê uma cena que vai reparação
atormentar a sua imaginação: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, tira a roupa e mergulha, apenas de calcinha e sutiã, na fonte do quintal da casa de campo.

A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a menina, que nutre a ambição de ser escritora, constrói uma história fantasiosa sobre uma cena que presencia. Comete um crime com efeitos devastadores na vida de toda a família e passa o resto de sua existência tentando desfazer o mal que causou.

6 – O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro

Edição Cia. das Letras

Edição Cia. das Letras

Sinopse: A vida de Nelson Rodrigues (1912-1980) foi mais espantosa do que qualquer uma de suas histórias. E olhe que ele escreveu peças como Vestido de noiva e Boca de ouro, romances como Asfalto selvagem e O casamento e os milhares de contos de A vida como ela é… . Mas foi de sua vida, e da vida de sua trágica família, que Nelson Rodrigues extraiu a obsessão pelo sexo e pela morte.

Gênio ou louco? Tarado ou santo? Reacionário ou revolucionário? Nenhum outro escritor brasileiro foi tão polêmico em seu tempo.

Para escrever O anjo pornográfico, Ruy Castro, autor do consagrado Chega de saudade, realizou centenas de entrevistas com 125 pessoas que conheceram intimamente Nelson Rodrigues e sua família. Elas o ajudaram a reconstituir essa assombrosa história, capaz de arrancar risos e lágrimas.

7 – O papel do jornal, Alberto Dines

Sinopse: Nessa obra, Alberto Dines comenta a respeito tanto da forma de um jornal quanto de seu conteúdo. Assim, bibliografia o papel do jornala forma se refere ao papel com que o jornal é expresso, e ao modo como as notícias e textos são organizados visualmente em suas páginas. Quanto ao conteúdo, o autor comenta a respeito das principais qualidades e defeitos de uma matéria jornalística. Ele aborda a respeito de como a importância e teor de uma notícia devem ser trabalhados, de forma a passar para o leitor a verdade dos fatos e formar-lhes a sua interpretação dos mesmos.

O papel da imprensa durante os principais eventos do Brasil e do mundo e recomendações de como um bom jornalista deve ser e agir estão presentes na obra.

8 – Despachos do Front, Michael Herr

despachos do frontSinopse: Em 1967, o jornalista americano Michael Herr foi enviado pela revista “Esquire” ao Vietnã, onde seria correspondente.

Os dois anos que passou em companhia dos soldados na guerra renderam diversos artigos, que mais tarde seriam reunidos em “Despachos do Front”, livro no qual discorre sobre os acontecimentos de maneira não-convencional, usando uma linguagem repleta de gírias e jargões militares, permeada pela cultura pop da época.

A experiência de Herr rendeu ainda mais frutos. Trabalhou escrevendo a narração de “Apocalypse Now” (Francis Ford Coppola) e o roteiro de “Nascido Para Matar” (Stanley Kubrick).
Publicado originalmente em 1977, muitos ainda consideram “Despachos do Front” o relato definitivo do conflito.

9 – Hiroshima, de John Hersey

Sinopse: A mais importante reportagem do século XX – um retrato de seis sobreviventes da bomba atômica escritolivro hiroshima um ano depois da explosão. Quarenta anos mais tarde, o repórter reencontra seus entrevistados. A bomba atômica matou 100 mil pessoas na cidade japonesa de Hiroshima, em agosto de 1945. Naquele dia, depois de um clarão silencioso, uma torre de poeira e fragmentos de fissão se ergueu no céu de Hiroshima, deixando cair gotas imensas – do tamanho de bolas de gude – da pavorosa mistura.

Um ano depois, a reportagem de John Hersey reconstituía o dia da explosão a partir do depoimento de seis sobreviventes. Quarenta anos depois, Hersey voltou a Hiroshima e escreveu o último capítulo da história dos hibakushas – as pessoas atingidas pelos efeitos da bomba. Hiroshima permitiu que o mundo tomasse consciência do catastrófico poder de destruição das armas nucleares. O livro é tão importante que não é a primeira vez que o JL blog cita a obra – veja mais.

10 – Diante da dor dos outros, de Susan Sontag

diante-dorSinopse: Imagens do sofrimento são apresentadas diariamente pelos meios de comunicação. Graças à televisão e ao computador, imagens de desgraça se tornaram uma espécie de lugar-comum. Mas como a representação da crueldade nos influencia? O que provocam em nós exatamente? Estamos insensibilizados pelo bombardeio de imagens?

Em Ensaios sobre a fotografia, publicado no Brasil no começo dos anos 1980, Susan Sontag abordou o tema em termos que definiram o debate pelas décadas seguintes. Aqui, faz uma nova e profunda reflexão sobre as relações entre notícia, arte e compreensão na representação dos horrores da guerra, da dor e da catástrofe.

Discutindo os argumentos sobre como essas imagens podem inspirar discórdia, fomentar a violência ou criar apatia, a autora evoca a longa história da representação da dor dos outros – desde As desgraças da guerra, de Francisco de Goya (1746-1828), até fotos da Guerra Civil Americana, da Primeira Guerra Mundial, da Guerra Civil Espanhola, dos campos nazistas de extermínio durante a Segunda Guerra, além de imagens contemporâneas de Serra Leoa, Ruanda, Israel, Palestina e de Nova York no 11 de setembro de 2001.

Num texto preciso e provocador, Sontag levanta questões cruciais para a compreensão da vida contemporânea. De sua reflexão surge uma formulação surpreendente e desafiadora: a relevância dessas imagens depende, em última instância, da maneira com que nós, espectadores, as encaramos.