The New Yorker faz reportagem sobre a Copa do Mundo no Brasil

Uma matéria do UOL, destacou a reportagem sobre a Copa do Mundo Fifa 2014 no Brasil, realizada pela revista especializada em Jornalismo Literário, chamada de “Bíblia do Jornalismo nos EUA”, The New Yorker. A reportagem intitulada “Samba Soccer: a transformação da equipe mais célebre do Brasil”, escrita pelo jornalista Ben MacGrath, comenta sobre a construção dos mega estádios brasileiros, sobre o empobrecimento da população residente nas cidades sedes, sobre “figurões” do futebol brasileiro como Andrés Sanches e Ronaldo, sobre a ascensão do Corinthians, além da oposição de Romário ao desperdício de dinheiro público durante as obras da Copa, entre outros temas.

Confira alguns trechos da reportagem de  Ben MacGrath:

A última vez que o Brasil sediou a Copa do Mundo, em 1950, duzentas mil pessoas – um décimo da população do Rio de Janeiro na época -se dirigiram para o Maracanã, estádio recém-concluído, para assistir a sua seleção amada, a Seleção Brasileira, competir pelo título contra o Uruguai .

Uma tigela de concreto monumental, destinada a rivalizar com a estátua do Cristo Redentor, no alto do Corcovado, o Maracanã se assemelhava a uma nave espacial e foi concebido para incorporar, como o jornalista britânico Alex Bellos escreveu em “Futebol: The Brazilian Way of Life”, não só ambição esportiva do Brasil, mas também “afirmar o lugar do país no mundo moderno.”

Sua grandeza foi maior, por várias magnitudes, do que qualquer outro estádio brasileiro. Cerca de dez mil homens haviam contribuído para a sua construção, inclusive praticando comemorações de gol enquanto trabalhavam. Mesmo assim, de alguma forma, a construção terminou antes do previsto.

Em seguida, na final da Copa de 50, o Brasil perdeu, por 2-1, para o Uruguay. De volta para casa, enquanto ouviam no rádio, três uruguaios, supostamente, morreram de emoção. No Maracanã, todos estavam atordoados. O estranho silêncio, causado por uma derrota incompreensível e desconcertante, deixou uma ferida na psique nacional. O romancista Nelson Rodrigues identificou o momento como fonte do “complexo de vira-lata” de seu país: “Inferioridade voluntária brasileira frente ao resto do mundo”. Apesar das cinco Copas do Mundo que o Brasil ganhou, mais do que qualquer país, a humilhação sofrida no Maracanã em 50, continua a ser o aspecto mais negativo de seu legado esportivo, se não de toda sua história moderna. “Quando os jogadores mais precisaram do Maracanã, o Maracanã ficou em silêncio”, declarou o cantor, compositor e poeta Chico Buarque. “Você não pode confiar em um estádio de futebol, essa é a lição aprendida depois de 1950.”

A lição pode ter sido esquecida. O boom econômico que recentemente elevou o Brasil, com sua classe média emergente, para a beira do Primeiro Mundo, instituiu um respeito frente ao resto do globo. Em junho, na abertura da Copa, no jogo Brasil x Croácia, que será disputado no Itaquerão, pode ser o primeiro e último jogo de Copa do Mundo disputado no estádio. Entretanto, o empreendimento tem herdeiro: o Corinthians, uma equipe de profissionais conhecida tanto por suas ligações históricas ao proletariado quanto por sua violenta torcida organizada. O estádio, um monumento à gentrificação, contará com a maior tela digital já vista na terra e uma iluminação duas vezes mais brilhante que a utilizada na Allianz Arena, em Munique. O brilho deve ser visível, em uma noite clara, à cerca de oitenta quilômetros de distância.

“A idéia é construir o melhor e o maior shopping center do mundo, com um campo de futebol no meio”, me disse Andrés Sánchez, ex-presidente do Corinthians, que está supervisionando a construção. As palavras soaram mais como um Donald Trump do que como um mordomo do jogo bonito, ou belo jogo. Cada metro quadrado no local foi é como uma “máquina de fazer dinheiro.” Sánchez gosta de dizer que o Corinthians “mudou a forma como o futebol brasileiro pensa,” e, entre cigarros, que ele jogou no chão, metade fumado, ele discutiu com a convicção de que a história estava agora do seu lado. Com a Europa em declínio, é só uma questão de tempo e determinismo econômico, antes dos lendários clubes europeus cederem seus melhores jogadores. É verdade, a liga profissional brasileira ainda tem algumas dificuldades para competir com o mercado europeu, mas mesmo assim, ele disse, “nós vamos facilmente superar os times europeus e vamos ser o melhor campeonato do mundo.”

A reportagem completa pode ser encontrada na nova edição da revista The New Yorker.

reportagem the new yorker sobre a copa 2014 - jornalismo literário